Bom, antes de mais nada
queria comentar que há alguns tipos de "interdisciplinaridade". É
bom, para quem tiver interesse, ler sobre esse assunto.
Acima de tudo, o fundamental
é sempre pensar a interdisciplinaridade como algo que possibilite uma educação de
qualidade e de como o professor pode fazer isso.
Como nem toda escola possui
método para ensinar música é sempre bom o professor ter da onde partir. Minha
sugestão seria o diálogo entre História e Música.
Na verdade, tenho que
reconhecer que minha proposta é bem simplória e até meio óbvia. Mas, mesmo
assim, resolvi comentar aqui no blog.
Vamos lá F
Conversei com um amigo, que
é professor de História, sobre minha ideia e ele enviou para mim o planejamento
dele. Nesse documento há os eixos temáticos para a orientação sobre o que
ensinar durante (no caso dele) do 5º ao 9º ano (Ensino Fundamental - Fase II).
A ideia que proponho é dos
professores de Música e História pensarem o currículo conjuntamente, ou seja, num
diálogo em que os alunos possam compreender que em tal período ocorreu tais
movimentos culturais; quais compositores se destacaram; quais composições foram
mais "importantes".
Quando eu era estudante,
principalmente no Ensino Médio, senti essa falta de contextualização. Imagine
como seria interessante estudar J.S. Bach, L.V.Beethoven, Palestrina, como
também os músicos contemporâneos, conhecendo as características sociais, políticas
e econômicas que esses compositores vivenciaram.
A compreensão, quando
contextualizada, fica mais fácil de ser alcançada. Eu defendo essa ideia, pelo
menos.
Seguindo essa linha de
raciocínio, o professor de música pode ter seu planejamento de ensino facilitado
também. Como a disciplina Arte, ou de Educação Musical, geralmente não possui
um planejamento, uma orientação "vinda de cima", até porque é uma
área bastante depreciada no mundo escolar, o professor acaba por ter que se
virar. Com esse diálogo, acredito que tanto os professores de música, como os
alunos serão privilegiados.
Porém, haverá a necessidade
de diálogo entre professores e esse pode ser um empecilho. Nem todos querem
dialogar com o colega, por falta de interesse, ou de tempo, etc. Mas tudo pode
ser conversado.
Bom, vou dar um exemplo de
planejamento de Música, a partir de um plano de ensino de História.
De acordo com o conteúdo
programático passado pelo meu amigo, o 8º ano possui 4 cadernos.
O Caderno 1 é assim pensado:
8º ano
|
Unidades
|
Capítulos
|
1 A Inglaterra
absolutista e as 13 colônias (XV-XVII)
|
1 O absolutismo
2 O absolutismo
inglês
3 As revoluções
inglesas
4 A colonização da
América do Norte
| |
2 A época do ouro no
Brasil (XVIII)
|
1 A descoberta e a
exploração do ouro
2 Portugal e o ouro
brasileiro
3 O crescimento do
mercado interno e da vida urbana
4 A vida cotidiana
nas cidades mineiras
|
Há mais 3 cadernos, mas a ideia desse post é apenas sugerir uma ideia/reflexão sobre como montar o plano de ensino para o professor de Música.
Baseado nesse quadro, que
seria o conteúdo do 1º bimestre do 8º ano, o professor de Música pode pensar em
algumas alternativas para as suas aulas. Antes de mais nada, é importante
destacar que se pode partir dos séculos citados (XV-XVII e XVIII), porém o
professor precisa seguir o eixo temático proposto:
Séculos XV-XVIII: Inglaterra;
absolutismo; a colonização da América do Norte
Século XVIII: Época de ouro
no Brasil (a descoberta do Brasil, pelos portugueses, foi abordada no 7º ano).
Com esses eixos temáticos,
teremos "ideias" para trabalhar no 1º bimestre do 8º ano e, como
objetivo principal, tornar essa compreensão bem mais clara e significativa para
os alunos.
Assim, temos os eixos
temáticos. Por meio deles, pode-se ensinar teoria musical.
Bom, vamos para as ideias
musicais baseadas nesses eixos temáticos:
1.
A INGLATERRA ABSOLUTISTA E AS 13 COLÔNIAS (XV-XVII)
Música
nas dinastias Tudor e Stuart.
Compositores
Madrigal
Inglês
Escola
Elisabetana
Alguns compositores:
Wiilliam Byrd & Tristitia et Anxietas
Wiilliam Byrd & Música para o instrumento Cravo
Thomas Morley & Phillis, I fain would die now
April is in my mistress face
Como também John Dowland (coloquei algumas coisas em outro post), Nicholas Yonge, John Wilbye, Thomas Weelkes & Orlando Gibbons.
Ficou bastante coisa. O professor pode falar/relembrar que entre os séculos XV-XVII houve a mudança do período Renascentista para o Barroco e, consequentemente, alterações na harmonia, marcadas pela presença da musica ficta e do início do tonalismo. Também, pode falar sobre a vida deles e suas obras, tudo de maneira acessível para essa etapa. Propiciar audições críticas ou apenas apreciativas, como também estudar os instrumentos mais utilizados nesse período como a voz, o alaúde e a viola, por exemplo. Sempre é interessante propiciar atividades que possibilitem uma reflexão sobre esse repertório e etapa da história.
Coloquei alguns compositores
que podem ajudar a "ilustrar" essa fase do absolutismo inglês. No
livro História Universal da Música, Vol.1, de Candé, há mais informações sobre
isso.
Acho que seria adequado
utilizar, no máximo, um compositor por aula.
Claro que esse seria o eixo
temático da aula. Limitar tudo a história da música ser muito chato para o
aluno, sem contar que tornaria a aula totalmente voltada ao professor, sem
muita participação do aluno. Assim, como venho comentando em outros posts, é interessante
trazer o aluno para a aula, pois isso torna o conteúdo mais significativo.
Além da história, o
professor deve falar de instrumentos, como também propor atividades musicais
que partam do conteúdo proposto.
2 A ÉPOCA DO OURO NO BRASIL (XVIII)
- surgimento
dos primeiros compositores importantes do Brasil, muitos deles mulatos
(lembrando que a escravidão ainda existia no nosso país).
Exemplos:
José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Manoel Dias de Oliveira, Francisco Gomes da Rocha, Marcos Coelho Neto Pai & Marcos Coelho Neto Filho.
Existem livros de História da Música que falam sobre isso. Quem nunca leu o História da Música no Brasil do Vasco Mariz, por exemplo.
Existem livros de História da Música que falam sobre isso. Quem nunca leu o História da Música no Brasil do Vasco Mariz, por exemplo.
Colocarei um exemplo de obra de um destes brasileiros:
Bênção das Cinzas e Missa de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita
Missa Abreviada de Manoel Dias de Oliveira (Partitura no site http://www.mmmariana.com.br)
Magnificat de Manoel Dias de Oliveira.
Marcha de Francisco Gomes da Rocha
Ladainha de Nossa Senhora (Kyrie) de Marcos Coelho Neto Filho
Aqui, segue-se a mesma ideia citada anteriormente: trabalhar com a parte histórica, comentar algo sobre instrumentos, como também ensinar algum aspecto mais teórico da música (ex: tercina, altura...), como também propiciar a audição de músicas.
Era isso. Fica a ideia.