Sobre o blog

Minha foto
Olá, meu nome é Tiago (Professor Panela) e nesse espaço você verá algumas ideias minhas (e de outros), refletidas a partir de leituras e do aprendizado com outras pessoas. Acho importante esse tipo de blog porque a educação musical ainda está engatinhando em nossas escolas e o apoio que recebemos ainda é insuficiente. Espero que todos participem com dicas, conselhos, atividades, etc. para que todos possam aprender e trocar experiências.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Interdisciplinaridade entre História e Música



Bom, antes de mais nada queria comentar que há alguns tipos de "interdisciplinaridade". É bom, para quem tiver interesse, ler sobre esse assunto.
Acima de tudo, o fundamental é sempre pensar a interdisciplinaridade  como algo que possibilite uma educação de qualidade e de como o professor pode fazer isso.
Como nem toda escola possui método para ensinar música é sempre bom o professor ter da onde partir. Minha sugestão seria o diálogo entre História e Música.
Na verdade, tenho que reconhecer que minha proposta é bem simplória e até meio óbvia. Mas, mesmo assim, resolvi comentar aqui no blog.

Vamos lá F

Conversei com um amigo, que é professor de História, sobre minha ideia e ele enviou para mim o planejamento dele. Nesse documento há os eixos temáticos para a orientação sobre o que ensinar durante (no caso dele) do 5º ao 9º ano (Ensino Fundamental - Fase II).
A ideia que proponho é dos professores de Música e História pensarem o currículo conjuntamente, ou seja, num diálogo em que os alunos possam compreender que em tal período ocorreu tais movimentos culturais; quais compositores se destacaram; quais composições foram mais "importantes".
Quando eu era estudante, principalmente no Ensino Médio, senti essa falta de contextualização. Imagine como seria interessante estudar J.S. Bach, L.V.Beethoven, Palestrina, como também os músicos contemporâneos, conhecendo as características sociais, políticas e econômicas que esses compositores vivenciaram.

A compreensão, quando contextualizada, fica mais fácil de ser alcançada. Eu defendo essa ideia, pelo menos.

Seguindo essa linha de raciocínio, o professor de música pode ter seu planejamento de ensino facilitado também. Como a disciplina Arte, ou de Educação Musical, geralmente não possui um planejamento, uma orientação "vinda de cima", até porque é uma área bastante depreciada no mundo escolar, o professor acaba por ter que se virar. Com esse diálogo, acredito que tanto os professores de música, como os alunos serão privilegiados.
Porém, haverá a necessidade de diálogo entre professores e esse pode ser um empecilho. Nem todos querem dialogar com o colega, por falta de interesse, ou de tempo, etc. Mas tudo pode ser conversado.

Bom, vou dar um exemplo de planejamento de Música, a partir de um plano de ensino de História.
De acordo com o conteúdo programático passado pelo meu amigo, o 8º ano possui 4 cadernos.
O Caderno 1 é assim pensado:



8º ano
Unidades
Capítulos

1 A Inglaterra absolutista e as 13 colônias (XV-XVII) 

1 O absolutismo
2 O absolutismo inglês
3 As revoluções inglesas
4 A colonização da América do Norte



2 A época do ouro no Brasil (XVIII)

1 A descoberta e a exploração do ouro
2 Portugal e o ouro brasileiro
3 O crescimento do mercado interno e da vida urbana
4 A vida cotidiana nas cidades mineiras

Há mais 3 cadernos, mas a ideia desse post é apenas sugerir uma ideia/reflexão sobre como montar o plano de ensino para o professor de Música.
Baseado nesse quadro, que seria o conteúdo do 1º bimestre do 8º ano, o professor de Música pode pensar em algumas alternativas para as suas aulas. Antes de mais nada, é importante destacar que se pode partir dos séculos citados (XV-XVII e XVIII), porém o professor precisa seguir o eixo temático proposto:
Séculos XV-XVIII: Inglaterra; absolutismo; a colonização da América do Norte
Século XVIII: Época de ouro no Brasil (a descoberta do Brasil, pelos portugueses, foi abordada no 7º ano).

Com esses eixos temáticos, teremos "ideias" para trabalhar no 1º bimestre do 8º ano e, como objetivo principal, tornar essa compreensão bem mais clara e significativa para os alunos.

Assim, temos os eixos temáticos. Por meio deles, pode-se ensinar teoria musical.

Bom, vamos para as ideias musicais baseadas nesses eixos temáticos:

1. A INGLATERRA ABSOLUTISTA E AS 13 COLÔNIAS (XV-XVII)

Música nas dinastias Tudor e Stuart.
Compositores
Madrigal Inglês
Escola Elisabetana

Alguns compositores:

Wiilliam Byrd & Tristitia et Anxietas


Wiilliam Byrd & Música para o instrumento Cravo



Thomas Morley & Phillis, I fain would die now



April is in my mistress face


Como também John Dowland (coloquei algumas coisas em outro post), Nicholas Yonge, John Wilbye, Thomas Weelkes & Orlando Gibbons. 

Ficou bastante coisa. O professor pode falar/relembrar que entre os séculos XV-XVII houve a mudança do período Renascentista para o Barroco e, consequentemente, alterações na  harmonia, marcadas pela presença da musica ficta e do início do tonalismo. Também, pode falar sobre a vida deles e suas obras, tudo de maneira acessível para essa etapa. Propiciar audições críticas ou apenas apreciativas, como também estudar os instrumentos mais utilizados nesse período como a voz, o alaúde e a viola, por exemplo. Sempre é interessante propiciar atividades que possibilitem uma reflexão sobre esse repertório e etapa da história. 


Coloquei alguns compositores que podem ajudar a "ilustrar" essa fase do absolutismo inglês. No livro História Universal da Música, Vol.1, de Candé, há mais informações sobre isso.
Acho que seria adequado utilizar, no máximo, um compositor por aula.
Claro que esse seria o eixo temático da aula. Limitar tudo a história da música ser muito chato para o aluno, sem contar que tornaria a aula totalmente voltada ao professor, sem muita participação do aluno. Assim, como venho comentando em outros posts, é interessante trazer o aluno para a aula, pois isso torna o conteúdo mais significativo.
Além da história, o professor deve falar de instrumentos, como também propor atividades musicais que partam do conteúdo proposto.


2 A ÉPOCA DO OURO NO BRASIL (XVIII)

- surgimento dos primeiros compositores importantes do Brasil, muitos deles mulatos (lembrando que a escravidão ainda existia no nosso país).

Exemplos: 

José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Manoel Dias de Oliveira, Francisco Gomes da Rocha, Marcos Coelho Neto Pai & Marcos Coelho Neto Filho.

Existem livros de História da Música que falam sobre isso. Quem nunca leu o História da Música no Brasil do Vasco Mariz, por exemplo.

Colocarei um exemplo de obra de um destes brasileiros:





 Bênção das Cinzas e Missa de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita




Missa Abreviada de Manoel Dias de Oliveira (Partitura no site http://www.mmmariana.com.br)




Magnificat de Manoel Dias de Oliveira.




Marcha de Francisco Gomes da Rocha





Ladainha de Nossa Senhora (Kyrie) de Marcos Coelho Neto Filho



Aqui, segue-se a mesma ideia citada anteriormente: trabalhar com a parte histórica, comentar algo sobre instrumentos, como também ensinar algum aspecto mais teórico da música (ex: tercina, altura...), como também propiciar a audição de músicas.

Era isso. Fica a ideia.