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Olá, meu nome é Tiago (Professor Panela) e nesse espaço você verá algumas ideias minhas (e de outros), refletidas a partir de leituras e do aprendizado com outras pessoas. Acho importante esse tipo de blog porque a educação musical ainda está engatinhando em nossas escolas e o apoio que recebemos ainda é insuficiente. Espero que todos participem com dicas, conselhos, atividades, etc. para que todos possam aprender e trocar experiências.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Paródia em sala de aula

A paródia é um recurso muito utilizado em aulas de música e, basicamente, refere-se a criação de uma nova letra para uma música (canção) já existente.
Um bom exemplo de texto, sobre esse assunto, você encontra em:
AZEVEDO, Maria Cristina de Carvalho Cascelli. Paródia na sala de aula: uma análise intertextual, 2004, p.740-746. Disponível em: http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/anais2004/ABEM_2004.pdf

Por sinal, vou citar a atividade proposta pela autora Maria Azevedo (2004, p. 740):
A atividade ocorreu na disciplina Oficina Básica de Música do Curso de Licenciatura em Educação Artística -Artes Cênicas, na Universidade de Brasília e consistia numa proposta de criação musical a partir da leitura do texto Quando as palavras cantam do compositor M.Schafer (2000). Um grupo de alunos/as elaborou um exercício em forma de paródia que se desenvolveu do seguinte modo:

1º: - Audição e canto da música Beija Eu de Marisa Monte.
2º: - Divisão da turma em três grupos onde cada grupo recebeu um texto diferente: uma poesia [de Carlos Drummond de Andrade No meio do caminho)], um conto cômico e uma notícia de assassinato. Foi solicitado que cada grupo elaborasse e executasse uma paródia musical com o texto dado e a melodia de Beija Eu.
3º: Os trabalhos foram apresentados, gravados em fita cassete, ouvidos, apreciados e discutidos.

Poema de Carlos Drummond de Andrade

 No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
                                                                                                      

Bom, mas a ideia original para esse texto foi baseada num músico gaúcho chamado Guri de Uruguaiana. Seus vídeos são muito engraçados e ele utiliza a letra da música "Canto alegretense" com a melodia de músicas famosas.

Mas vamos ver um pouco das músicas.

Primeiro, Canto alegretense com letra de Antonio Augusto Fagundes e música de Euclides Fagundes. Essa música é uma espécie de hino para os gaúchos.

Canto alegretense

Não me perguntes onde fica o Alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e violão


Prá quem chega de Rosário ao fim da tarde
Ou quem vem de Uruguaiana de manhã
Tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no Rio Ibirapuitã

Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduy


E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer


E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e gratidão



Nesse site há um pouco da vida do escritor da letra:


Não achei nenhum vídeo com boa qualidade da família Fagundes interpretando a música Canto alegretense. Há esse vídeo com imagens, sendo cantado pelo Nico Fagundes.

* Vídeos no youtube *


E tem a versão com o Gaúcho da Fronteira (Vídeos no youtube * é só digitar o nome da música e escolher a interpretação do Gaúcho da Fronteira)



Agora, iremos para a parte da paródia, ou melhor, a forma como eu estou chamando essa atividade:

Há inúmeros vídeos no Youtube do Guri de Uruguaiana utilizando a letra dessa canção muito famosa no Rio Grande do Sul, com melodias dos mais diversos tipos e lugares e isso é o que deixa rica a proposta de paródia.
Nisso, o professor pode trabalhar aspectos como:
• adaptação da letra à música
• prosódia e o ritmo       
• reflexão sobre a questão de erros de prosódia
• reflexões tais: muda a palavra ou mudo o ritmo? Tudo deve ser pensado e esse tipo de escolha é bastante musical.
Pessoas que compõem musica, sabem da importância e da dificuldade de se tomar escolhas quando o assunto é a composição.
Esse tipo de atividade, que eu estou chamando de Paródia é uma atividade de criação musical? Apesar de muitos não gostarem ou não considerarem a paródia uma atividade musical, deixo que cada um decida isso.

Dessa forma, o plano de aula pode seguir o seguinte cronograma:

• apresentação da ideia da aula: paródia e seus usos.
No caso dessa aula, seria uma ideia diferente do costumeiro: a utilização não seria da parte musical, mas sim da letra da música, só que com outro tipo (outra música) de fundo musical
• dados sobre a obra e o compositor da canção/letra utilizada
• audição da obra original
• para melhor entendimento da proposta que o professor deseja, mostrar exemplo de um dos vídeos do  Guri de Uruguaiana.
• dividir a turma em grupo. O grupo pode enfrentar o desafio de escolher as músicas que os alunos tentarão realizar a brincadeira, ou o professor leva a ideia de música. 
O professor deve sempre dar orientação para os alunos, mas sempre cuidando para não interferir no processo  criativo, na liberdade de escolha dos grupos e da adaptação.
• se o trabalho não ficar pronto em uma aula, pede-se, como tarefa de casa, que os grupos terminem e tragam pronto para a próxima aula. É muito provável que isso não acontece, então o professor deve estar preparado para um aula diferente da que ele tinha programado.
• escuta e gravação das músicas.
• reflexão sobre o processo final, com todos os alunos.


Vídeos do Guri de Uruguaiana 

* Vídeos no youtube *

The Guritles



Baby - Justin Beaber


YMCA - Village people




Bom, tudo isso é uma grande brincadeira.
Claro que o professor fará um trabalho sério, como o proposto pela Maria Azevedo, com muita reflexão sobre os resultados e o questionamento, o debate com os alunos sobre todo o processo.


Coloquei os vídeos do Guri de Uruguaiana porque ele nos mostra, de maneira bastante descontraída, as possibilidades de uma paródia.

Era isso.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

John Dowland em sala de aula


Há um compositor que eu gosto bastante, cujo nome é John Dowland.
Penso ser possível utilizá-lo em sala de aula, pois sua música é bastante simples, porém "rica".

Sugiro, utilizá-lo dentro das seguintes propostas:

1 - interdisciplinaridade com a disciplina Língua estrangeira: Inglês;
O educador musical poderia propor ao professor de Inglês o estudo de um dos poemas das canções de John Dowland. Nesse caso, seria interessante o cuidado com o fato de que o inglês das letras, em alguns casos, é arcaico, como também inglês britânico.
PS: para quem não sabe, há palavras que no inglês britânico são diferentes do inglês americano, como acontece também com o português de Portugal e o do Brasil.
Ex: elevador em inglês americano: elevator; no britânico: lift.

2 - suas canções são cantadas em inglês e geralmente acompanhadas por alaúde;
Aqui, o professor pode realizar uma associação histórica dessa composição "alaúde e voz" com a atual "violão e voz". Seria interessante um estudo histórico sobre esses dois instrumentos. 

3 - seus temas geralmente são melancólicos, falando sobre casos amorosos, escuridão, trevas...
Essa questão melancólica, envolvendo o "amor" é bastante atual e pertence, em sua grande maioria, às músicas midiáticas. O professor pode, novamente, realizar uma associação, como também mostrar ao aluno essas características nas músicas ditas antigas, como é o caso de John Dowland.

A questão "darkness" (escuridão/trevas) seria vista em outro contexto, fora da temática "romântica". O compositor e instrumentista ficou bastante conhecido por essa questão darkness, com músicas como Mourn, day is with darkness fled e In darkness let me dwell.



Mourn, mourn day is with darkness fled

&

In darkness let me dwell

ou





Há outras versões no Youtube, dessas duas canções. 

4 - Questões musicais, da música Mourn, day is with darkness fled :
- muitas músicas são, ao mesmo tempo, modais e tonais; exatamente nesse período, a utilização de acidentes na música modal (música ficta) se fortaleceu e a inclinação para a utilização  e aprimoramento do principio tonal foi se desenvolvendo, sendo, inclusive, a teoria sobre a retórica, sobre cada emoção que determinado tom "transmitia" sendo difundida.
- fórmulas 4/2 e 3/2
- alterações de emoções na música e a relação musical
Importante colocar que nessa fase a letra regia 100% a música.
- Curiosidade: os títulos das canções, geralmente, são a primeira frase da estrofe.
- andamento lento e rápido
- utilização do recurso de "extensão de compasso", ou seja, a música estava naturalmente em 3/2 e, em determinado compasso, em função da letra, fica em 5/2.
 - dissonâncias acentuando a dramaticidade do texto. ex: - dissonância de 7ª, na troca da ideia de céu pelo inferno.



Eis um pequeno resumo de um trabalho que fiz:

John Dowland (1562-1626) foi um importante músico, possivelmente inglês, da época isabelina. Destacou-se por suas airs por serem “notáveis pela sensibilidade na declamação do texto e pela sutileza melódica” (MASSIN, 1997, p.252). Entre 1598 e 1606, publicou uma série de coleções conhecidas como The First Booke of Songes or Ayres (1597), The Second Booke of Songes or Ayres (1600) e o The Third Booke of Songes or Ayres (1603) 

Nesses três livros há a presença das características mais marcantes da obra de John Dowland: ironia e sarcasmo, como na música It was a time when silly bees, onde ironiza a vida na corte da rainha Elizabeth I e utiliza a “metáfora da rainha abelha cercada de vermes” (SCARINCI, 1997, p. 71), a visão melancólica da mulher como nas obras Can she excuse my wrongs e  If my complaints, conotação sexual como no refrão “To see, to hear, to touch, to kiss, to die” de Come Again e a presença da idéia pessimista de vida, repleta do conflito entre trevas e luz, como em In darknesse let mee dwell e Mourne, day is with darknesse fled

A melancolia está presente na ária Mourne, day is with darknesse fled, que é a quinta música do The Second Booke of Songes or Ayres (1600). Sua poesia possui 3 estrofes e sua temática é sobre o conflito do homem em relação ao céu e inferno, sombras e luz, sol e noite, de conflito existencial tão presente na obra de John Dowland.


LETRA:

Mourn, mourn, day is with darkness fled



Mourn, mourn, day is with darkness fled,
What heav'n then governs Earth?
Oh, none but hell in heaven's stead
Chokes with his mists our mirth.


Mourn, mourn, look  now for no more day
Nor night, but that from hell.
Then all must, as they may,
In darkness learn to dwell.


But yet this change  needs must change our delight.
That thus the Sun should harbor with the night.



Pesar, pesar, o dia com a escuridão fugiu

Pesar, pesar, o dia com a escuridão fugiu,
Que céu, então governa a terra?
Nenhum, mas o inferno ao invés do céu, 

Pesar, pesar, não mais procure pelo dia,
Nem pela noite, mas por aquele que é do inferno, 
Então, todos como devem
Na escuridão aprenderão a viver.

Mas no entanto, esta mudança deve necessariamente transformar nosso prazer,
Que deste modo o sol deveria acolher a noite.

Agradecimento a "Tia Jô" pela tradução.


Por fim...


Plano de Aula:

Dessa forma, com as informações que disponho aqui, somando-se à pesquisa que o professor também fará para a sua aula, acredito ser possível utilizar John Dowland em sala de aula.
Como plano de aula, faria algo como:

• apresentação de John Dowland (podendo seguir uma linha temática, como a questão romântica ou darkness)

• apreciação da música Mourn, day is with darkness fled.
Inicialmente, os alunos não verão o vídeo com a música sendo performada. Dessa forma,  professor pode questioná-los sobre os aspectos que chamaram a atenção deles. 
Depois, a turma vê o vídeo e o professor pode falar de aspectos como a  forma, estilo, a forma de cantar, andamento e ritardandos, a língua inglesa, quais os instrumentos que fazem parte da música, as características citadas acima... tudo depende da série e do conhecimento prévio que a turma possui!
Por fim, o professor explica que nesse período, diferentemente do nosso, a parte musical seguia a ideia do texto e, para isso, os compositores utilizavam recursos expressivos, tais como word paiting e recursos provindos da retórica, que era forte nessa fase. Um exemplo de retórica, que posso citar, seria:
- articulus: repetição de uma mesma palavra no texto para ressaltar a dramaticidade
- catabasis: passagem descendente, melodicamente ou em sequências harmônicas, representando sofrimento, tristeza ou a condição terrena do homem.

• ver a letra (seu teor poético) e sua tradução

• depois, o professor pode trazer esses aspectos para a atualidade, começando com a forma violão e voz, associando com a forma alaúde e voz e, depois, deixando como tema para casa, uma pesquisa sobre algum grupo ou artista solo brasileiro que possui temática darkness.

• Como prática musical, o professor pode propor:

 a execução desse tipo de canção, que exige determinada colocação da voz (isso exigiria o ensino da técnica vocal), sem contar o inglês.

com movimentos corporais (estilo dança) a turma poderia tentar marcar o o andamento; pela música estar em função da letra, a expressividade adquire um caráter peculiar. O professor poderia, antes de utilizar essa música, realizar essa atividade com uma obra bastante "quadrada", com pulso bem definido e sem alterações e, após a execução dessas duas músicas, questionar sobre o que eles perceberam, suas diferenças e semelhanças.

a atividade de composição sempre é bem vinda, porém, acredito que os pais dos alunos não gostariam de ver seus filhos compondo algo "dakness" (hehehe); essa ideia ficaria melhor utilizada mo aspecto "romântico" de John Dowland.



Ainda há outras músicas conhecidas que podem ser utilizadas em sala de aula, com outro eixo temático. A música Come Again, além de ser bastante alegre, foi performada pelo cantor contemporâneo Sting. 



Também há a famosa Flow my tears




O educador, através da sugestão dos textos sugeridos logo abaixo, pode também se aventurar a pesquisar as outras características presentes na música de John Dowland, sendo uma delas a questão de romance.
A canção Can she excuse my wrogns?, como o próprio título nos instiga, fala disso.
A partitura dessa canção você encontra nesse link: http://artsongcentral.com/2008/dowland-can-she-excuse-my-wrongs/ e a partitura nesse: http://artsongcentral.com/wp-content/uploads/lute118.pdf



Sugiro a leitura de 3 trabalhos:

BURMESTER, Roger.  Análise retórico-musical das Árias Flow my tears e Come, heavy sleep, de John Dowland (1563-1626). 

POULTON, Diana. John Dowland . Published by Faber & Faber. 2nd edition, 1982. Disponível em: http://www.ucpress.edu/op.php?isbn=9780520046498

SCARINCI, Silvana. Elementos para interpretação da obra de John Dowland (com ênfase nas pavanas e galhardas). Campinas, 1998. Dissertação de Mestrado. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000186583
Nesse site, é necessário fazer um cadastro.

Nesse site há algumas partituras: http://artsongcentral.com/song-index/


Era isso.

Fui.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Nunca castre a criatividade do ser humano


Começo este ano, citando uma passagem do livro Pedagogia da Esperança do autor Paulo Freire;

Leiam e reflitam, da maneira como desejarem.

Eu, particularmente, nunca faria isso. Sou partidário de cada item do poema Eu aprendi de Shakespeare, onde diz:
[Eu aprendi] Que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.
Nesse sentido, entendo sonhos como criatividade, liberdade, inspiração....
Também acredito que essa afirmação sirva para qualquer ser humano.

Bueno, vamos ao texto de Paulo Freire.

Inicialmente, é bom destacar, que essa passagem começa com uma professora rasgando o desenho feito por uma criança. Dessa forma, o pai dela vai até a escola para saber o porquê desse ato:

"Como qualquer pai ou mãe de opção democrática e coerente com sua opção, Claudius ( o pai) procurou a professora para conversar sobre o ocorrido.

A professora tinha a criança em alto preço. Falou dela de forma elogiosa, salientando o seu talento e a sua capacidade de ser livre.

Claudius percebeu, pelo olhar da professora, por seus gestos, pelo tom de sua voz, que jamais passaria por sua cabeça que ele havia vindo para sublinhar-lhe sua desaprovação ao que ela fizera com o desenho de Flávio (seu filho). Mais ainda, sua desaprovação ao que ela fizera com Flávio mesmo, com sua criatividade quase esfarrapada por ela.

Feliz pela visita do pai de um de seus alunos a quem ela realmente admirava, ia e vinha quase saltitante, falando de suas atividades de classe.

Claudius ouvia e acompanhava suas narrativas esperando um oportuno momento para, com sua raiva já gasta, já amainada, falar a ela sobre o ocorrido. De repente, ela lhe mostra uma coleção de desenhos quase iguais de um gato preto. Um gato único, multiplicação, que sofrera apenas mudanças, de um a outro, neste e naquele traço.

- Que tal? - pergunta a professora sem esperar resposta; pergunta apenas para exclamar. - Foram os alunos que fizeram - diz ela. - Trouxe para eles um modelo de gato para que copiassem.

- Eu acho que teria sido melhor se eles tivessem tido na sala um gato vivo, andando, correndo, pulando - disse Claudius. - As crianças reinventariam o gato de verdade. Ficariam livres para fazer o gato que lhes aprouvesse. Seriam livres para criar, para inventar e reinventar.

- Não! Não! - gritou, quase, a professora. - Talvez isso dê certo com seu filho, talvez. Não estou certa, mas talvez com ele isso dê certo; com ele - repetia - que é vivo, inteligente, criador, livre. 
Mas, e os outros? Lembro-me de mim, de quando era criança - continuou a professora. - Me apavoravam as situações em que me sentia demandada a escolher, a decidir, a criar. Foi por isso que, há poucos dias, tomei (amenizou a ação de rasgar com a de tomar) um desenho de Flávio. Ele desenhou um gato que não podia existir. Um gato multicor. Não poderia aceitar o desenho dele. Seria prejudicial não só a ele mas sobretudo aos outros.

E essa, aprecia, era a forma como a escola toda funcionava e não só aquela educadora que tremia de medo só em ouvir falar de liberdade, de criação, de aventura, de risco. Para ela o mundo não devia mudar e, tal qual na estória do porquinho [citada anteriormente], jamais deveríamos sair dos trilhos que bitolam nossa passagem pelo mundo. Marchar nos trilhos já postos para nós, eis o nosso fado, a nossa sina." (FREIRE, 2003, p.142-143)

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 11ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.