Começo este
ano, citando uma passagem do livro Pedagogia da Esperança do autor Paulo Freire;
Leiam e
reflitam, da maneira como desejarem.
Eu,
particularmente, nunca faria isso. Sou partidário de cada item do poema Eu aprendi de Shakespeare, onde diz:
[Eu aprendi] Que jamais posso dizer a uma
criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo
se eu conseguisse convencê-la disso.
Nesse sentido, entendo sonhos como
criatividade, liberdade, inspiração....
Também acredito que essa afirmação sirva para qualquer ser humano.
Bueno, vamos
ao texto de Paulo Freire.
Inicialmente,
é bom destacar, que essa passagem começa com uma professora rasgando o desenho
feito por uma criança. Dessa forma, o pai dela vai até a escola para saber o
porquê desse ato:
"Como
qualquer pai ou mãe de opção democrática e coerente com sua opção, Claudius ( o
pai) procurou a professora para conversar sobre o ocorrido.
A professora
tinha a criança em alto preço. Falou dela de forma elogiosa, salientando o seu
talento e a sua capacidade de ser livre.
Claudius
percebeu, pelo olhar da professora, por seus gestos, pelo tom de sua voz, que
jamais passaria por sua cabeça que ele havia vindo para sublinhar-lhe sua
desaprovação ao que ela fizera com o desenho de Flávio (seu filho). Mais ainda,
sua desaprovação ao que ela fizera com Flávio mesmo, com sua criatividade quase
esfarrapada por ela.
Feliz pela
visita do pai de um de seus alunos a quem ela realmente admirava, ia e vinha
quase saltitante, falando de suas atividades de classe.
Claudius
ouvia e acompanhava suas narrativas esperando um oportuno momento para, com sua
raiva já gasta, já amainada, falar a ela sobre o ocorrido. De repente, ela lhe
mostra uma coleção de desenhos quase iguais de um gato preto. Um gato único,
multiplicação, que sofrera apenas mudanças, de um a outro, neste e naquele
traço.
- Que tal? -
pergunta a professora sem esperar resposta; pergunta apenas para exclamar. -
Foram os alunos que fizeram - diz ela. - Trouxe para eles um modelo de gato
para que copiassem.
- Eu acho
que teria sido melhor se eles tivessem tido na sala um gato vivo, andando,
correndo, pulando - disse Claudius. - As crianças reinventariam o gato de
verdade. Ficariam livres para fazer o gato que lhes aprouvesse. Seriam livres
para criar, para inventar e reinventar.
- Não! Não!
- gritou, quase, a professora. - Talvez isso dê certo com seu filho, talvez.
Não estou certa, mas talvez com ele isso dê certo; com ele - repetia - que é
vivo, inteligente, criador, livre.
Mas, e os outros? Lembro-me de mim, de
quando era criança - continuou a professora. - Me apavoravam as situações em
que me sentia demandada a escolher, a decidir, a criar. Foi por isso que, há
poucos dias, tomei (amenizou a ação de rasgar com a de tomar) um desenho de
Flávio. Ele desenhou um gato que não podia existir. Um gato multicor. Não
poderia aceitar o desenho dele. Seria prejudicial não só a ele mas sobretudo
aos outros.
E essa,
aprecia, era a forma como a escola toda funcionava e não só aquela educadora
que tremia de medo só em ouvir falar de liberdade, de criação, de aventura, de
risco. Para ela o mundo não devia mudar e, tal qual na estória do porquinho
[citada anteriormente], jamais deveríamos sair dos trilhos que bitolam nossa
passagem pelo mundo. Marchar nos trilhos já postos para nós, eis o nosso fado,
a nossa sina." (FREIRE, 2003, p.142-143)
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 11ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
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