Este pequeno texto visa refletir sobre a ressignificação na educação musical.
A ressignificação envolve todo um processo de quebra de conceitos ou preconceitos sobre determinado assunto. Na educação musical esse termo é bastante utilizado quando o assunto é a "música erudita".
Como sabemos, é um desafio utilizar esse tipo de música no ambiente de sala de aula. É bem verdade que a música popular também enfrenta esse desafios, mas em outro momento comentarei sobre isso.
O uso da música erudita em sala de aula é defendido pelos PCNs, diretrizes, como também por educadores musicais.
Obviamente, essa defesa procede, pois a escola necessita expandir a cultura do aluno e, dentro desse processo, torná-la significativa para ele.
Por causa disso, a ressignificação é necessária, já que o mundo atual não comporta esse tipo de arte. Poderíamos citar inúmeros motivos, mas acredito que o maior desafio do educador musical é transcender as dificuldades enfrentadas em sala de aula.
Para mim, é absurdo e muita ingenuidade um professor achar que utilizar a música dentro de um contexto de apreciação vá gerar um novo significado desse repertório para o aluno; ou ainda, é muita ingenuidade achar que realizar somente isso é o suficiente.
Infelizmente, a apreciação estética é muito pouco proveitosa, pois a sociedade de hoje não vai em direção à isso. A apreciação estética exige concentração e isso é pedir demais, pelo menos em um primeiro momento, para os alunos.
Isso é tão verdade que, mesmo utilizando uma música como o Cânone em Ré Maior de Johan Pachelbel, escutamos comentários como "isso é música para dormi"... sem contar a total falta de interesse na citada obra.
Posso estar sendo ingênuo, mas para mim, essa música é uma "verdadeira obra-prima", com alto teor estético. Mas isso é o que eu penso. Muitos alunos não concordam comigo.
Então, eu pergunto: o que fazer?
Claro que eu não pretendo propor uma utopia, com educadores musicais ditando verdades; o que é bom e o que é ruim; o que presta e o que não presta; que a música erudita é boa e o resto não é. Não é esse o ponto.
Acredito que a questão é propor a possibilidade do aluno de sair do senso comum, tão inerente à nossa sociedade.
Acredito que, se a música erudita fizer parte mais fortemente da rotina do aluno, essa ideia simplória poderá mudar.
Mas esse questionamento, essa inquietude é nova? Claro que não.
Assim, minha contribuição volta-se em enfatizar a importância do aluno "suar, sentir em seu corpo, transpirar" através de vivências com a música erudita.
Isso parece ser engraçado e até de mal gosto, mas as coisas só adquirem sentido para alguém se elas fazem parte da vida delas. E o que melhor a sentir em seu próprio corpo a música para ela tomar sentido?
Outro dia, estava assistindo a aula de um aluno, em uma turma de 9º ano. Ele abordou a Bossa Nova. Ele mostrou 4 músicas. Os alunos estavam as achando muito chatas, como a Garota de Ipanema que, da música brasileira mais tocada no mundo, foi rebaixada à "música de elevador". Porém, quando o aluno colocou a Aquarela de Toquinho, os alunos surpreendentemente a cantaram e com muita alegria. Até afirmaram que era uma boa música. O que aconteceu? Essa canção era utilizada pela escola durante o recreio e, dessa forma, houve uma ressignificação.
Claro que se torna inviável a utilização de uma mesma música por meses, por exemplo.
Dessa forma, coloco uma sugestão: do professor diminuir a quantidade de músicas em seu plano de ensino e trabalhar as músicas escolhidas de uma maneira que as torne significativas para eles. Acredito que, dessa maneira, a ressignificação poderá ser mais bem sucedida.
Ao invés de utilizar uma aula para o Cânone em Ré Maior, o professor utilizará 2 ou 3. Nesse aspecto, é interessante o professor conversar com o repertório; perceber o que ele pode oferecer. Assim, com apenas uma música, o professor pode trabalhar vários aspectos. No caso do Cânone, por exemplo, pode ser visto: o procedimento composicional cânone; os timbres do naipe de cordas; harmonia (a música sempre segue a mesma sequência de acordes - RéM/LáM/sim/fá#m/SolM/RéM/SolM/LáM); práticas musicais com cânones rítmicos e melódicos; composição e/ou arranjo através de/do cânone; história da música (do compositor Johan Pachelbel e do período Barroco); e, obviamente, pulso, andamento; altura; duração...
Para mim, o importante não é a quantidade, mas sim a qualidade com que o repertório é abordado em sala de aula.
O ponto que coloco é a de que se os alunos puderem vivenciar o máximo possível a teoria através da prática, como também vivenciar o repertório através da prática, ele poderá se tornar mais significativo.
Nesse ponto, o papel do professor é fundamental. Ele precisa ter muita paciência, dedicação, ser um motivador e se colocar no lugar do aluno. Sempre!!!
Como coloca Keith Swanwick (2003) é fundamental o aluno executar, compor e apreciar música. Juntamente, a literatura colabora com esse aperfeiçoamento.
Esse pequeno texto que escrevi, se baseia, fundamentalmente, na ideia de "vivenciar a música, sempre, através da ação, da prática". Trazer o aluno para primeiro plano, fazê-lo possuidor de todo o processo de aprendizado; voltar a aula totalmente para o aluno.
Procure no Youtube vídeos de jovens tocando o Cânone
Acredito que os alunos podem ser apoderar desse repertório e reinventá-los.
Esse livro comenta sobre várias coisas, dentre elas a ressignificação. Leitura muito interessante, muito pertinente para a educação musical e as reflexões que à ela pertence.
Está dada a dica.